sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Fichamento: Comunicação Digital - Eugênio Bucci

Sobre o autor:





Eugênio Bucci é um jornalista e professor brasileiro. Ele leciona na Escola de Comunicações e Artes da USP e escreve quinzenalmente no jornal O Estado de S. Paulo. Ele também é autor de livros como Sobre Ética e Imprensa (2001) e A Imprensa e o Dever da Liberdade (2009).

Destaques do texto: 




"Nesse tempo de presente expandido, vivemos a hipertrofia da valorização ideológica do presente. Dizemos que nós somos o ponto de chegada da evolução das espécies, porque já não dava mais para dizer que somos o centro do sistema solar. Agora está havendo uma revolução equiparável a revolução de Gutenberg."

"A tecnologia, por si, traz também mais diferenciação. Por exemplo, não é verdade que uma pessoa que tem acesso a um computador num quiosque na esquina já seja um incluído digital. Chegar até o computador, aprender alguns procedimentos para acessar um e-mail, para acessar um site, não é uma inclusão digital."

"Inclusão digital e exclusão digital não se referem a dois universos separados por uma linha fina. Tem milhões de níveis de diferenciação dentro do universo das pessoas que efetivamente usam a internet, que é muito diferente de quando nós tínhamos uma comunicação centrada na televisão ou no rádio, porque todos partilhavam do mesmo conteúdo mais ou menos da mesma forma e ao mesmo tempo."

"O que eu quero dizer é: não é a tecnologia que muda a sociedade. Nunca foi. A sociedade, ou os movimentos sociais ou as relações sociais, é o que dão sentido social e histórico para a tecnologia, e não o contrário."

"A televisão e o rádio, num período muito próximo, não vão mais depender desse tipo de tecnologia para o público que tiver acesso a esse tipo de serviço na rede. Não obstante, eu acho que emissoras de rádio, pelos padrões convencionais, e de televisão abertas, vão prosseguir ainda por muito tempo. Elas cumprem uma função insubstituível."

"Tem uma ideia, que eu acho essencial para a compreensão desse debate é que se fala muito de esfera pública, e que é um conceito que foi muito difundido por Habermas, como se sabe, mas a internet não dá a ver tanto o que o Habermas chama de esfera pública, ela dá a ver muito mais a uma outra categoria de Habermas, que é o mundo da vida."

"Internet não é um meio de comunicação. Se ela pode ser análoga a qualquer coisa, ela é mais análoga à luz elétrica. A internet é uma conexão que produz um novo espaço ou propicia um novo espaço, desenvolve uma série de atividades que são muito maiores do que aquelas, e muito mais numerosas e variadas do que aquelas que nós normalmente chamamos de comunicação."


Fichamento: Redes sociais na Internet - Raquel Recuero

Sobre a autora:





Raquel Recuero é uma jornalista, pesquisadora e professora do Curso de Comunicação da UCPel. Sua área de estudo são as redes sociais e comunidades virtuais na internet. A jornalista escreveu livros como: Análise de Redes para Mídia Social (2015) e A Conversação em Rede (2014).  

Destaques do texto:



"Para Watts, é preciso levar em conta que nas redes, os elementos estão sempre em ação, "fazendo algo", e que elas são dinâmicas, estão evoluindo e mudando com o tempo. Portanto, a questão crucial para a compreensão dessas redes sociais passava também pela sua dinâmica de sua construção e manutenção."

"As redes sociais, portanto, não são simplesmente randômicas. Existe algum tipo de ordem nelas."

"A partir do experimento de Milgram e das teorias de Granovetter, Ducan Watts e seu orientador, Steven Strogatz (Watts, 1999 e 2003), descobriram que as redes sociais apresentavam padrões altamente conectados, tendendo a formar pequenas quantidades de conexões entre cada indivíduo."

"Cada um de nós tem amigos e conhecidos em vários lugares do mundo, que por sua vez, têm outros amigos e conhecidos. Em larga escala, essas conexões mostram a existência de poucos graus de separação entre as pessoas no planeta."

"Isso porque é possível acrescentar quem se deseja como amigo sem que exista qualquer tipo de interação social entre os envolvidos. Basta fazer o pedido e a outra parte aceitar, em uma relação puramente aditiva."

"É justamente isso que se observa no Orkut. A junção de novos supostos links - laços sociais- se dá sem custo algum, na medida em que basta adicionar alguém. Não existe envolvimento de troca de capital social, nenhum tipo de envolvimento entre os indivíduos na díade."

"O que se percebe no Orkut, portanto, é que ele possui hubs que parecem estabelecer-se a partir da ordem de "ricos ficarem mais ricos", na medida em que as pessoas e comunidades mais populares parecem realmente continuar populares através do tempo e constituir redes sem escalas."

"O modelo de Barabási e Albert, portanto funciona no Orkut, mas apenas no nível do software. No nível efetivamente social, ele apresenta problemas."

"O modelo de Watts e Strogatz é um pouco mais claro no Orkut. Além de ser possível visualizar os clusters sob a forma de grupos e comunidades, percebe-se como essas são unidas entre si através dos seus membros, que participam também de outros grupos."

"O modelo de Erdös e Rényi parece fazer mais sentido neste sistema. Ora, as conexões no Orkut são estabelecidas de modo aleatório pelos hubs. Logo, faz sentido entender que todos os nós têm a mesma chance de receber essas conexões.
As pessoas escolhem a quem desejam se conectar, levando em conta valores específicos (tais como o capital social de um determinado grupo ou mesmo indivíduo). Portanto, os nós não têm a mesma chance de receber comentários e links: não se trata de uma rede igualitária."

"Como procuramos demonstrar, os modelos de análise das redes propostos por Erdös e Rényi, Watts e Strogatz e Barabási são insuficientes no sentido de perceber as complexidades de uma rede social na Internet."

"Todos os modelos, portanto, apresentam falhas na aplicação às redes sociais na Internet, em grande parte, devido à sua natureza matemática e pouco investigativa do teor das conexões e da não presunção de interação para a constituição do laço social."

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Fichamento: Da Cultura das Mídias à Cibercultura - Lúcia Santaella


Sobre a autora:



Lúcia Santaella nasceu em 13 de Agosto de 1944 em Catanduva, São Paulo. É professora titular da PUC-SP com doutorado em Teoria Literária. É também Coordenadora da Pós-graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital, Diretora do Centro de Investigação em Mídias Digitais (CIMID),  e Coordenadora do Centro de Estudos Peirceanos, na PUC-SP. Publicou obras como O Que é Semiótica (1990) e Cultura das Mídias (2000).

Destaques do texto: 




 “Hoje, com as idéias mais ajustadas, posso definir com mais precisão o que tenho entendido por cultura das mídias. Ela não se confunde nem com a cultura de massas, de um lado, nem com a cultura virtual ou cibercultura de outro. É, isto sim, uma cultura intermediária, situada entre ambas.”

“Embora a divisão que estabeleço de seis eras culturais refira-se, de fato, a eras, prefiro também chamá-las de formações culturais para transmitir a idéia de que não se trata aí de períodos culturais lineares, como se uma era fosse desaparecendo com o surgimento da próxima. Ao contrário, há sempre um processo cumulativo de complexificação: uma nova formação comunicativa e cultural vai se integrando na anterior, provocando nela reajustamentos e refuncionalizações.”

“Ao mesmo tempo, novas sementes começaram a brotar no campo das mídias com o surgimento de equipamentos e dispositivos que possibilitaram o aparecimento de uma cultura do disponível e do transitório: fotocopiadoras, videocassetes e aparelhos para gravação de vídeos, equipamentos do tipo walkman e walktalk, acompanhados de uma remarcável indústria de videoclips e videogames, juntamente com a expansiva indústria de filmes em vídeo para serem alugados nas videolocadoras, tudo isso culminando no surgimento da TV a cabo.”

“Essas tecnologias, equipamentos e as linguagens criadas para circularem neles têm como principal característica propiciar a escolha e consumo individualizados, em oposição ao consumo massivo. São esses processos comunicativos que considero como constitutivos de uma cultura das mídias. Foram eles que nos arrancaram da inércia da recepção de mensagens impostas de fora e nos treinaram para a busca da informação e do entretenimento que desejamos encontrar.”

“Enfim, cultura de massas, cultura das mídias e cultura digital, embora convivam hoje em um imenso caldeirão de misturas, apresentam cada uma delas caracteres que lhes são próprios e que precisam ser distinguidos, sob pena de nos perdermos em um labirinto de confusões. Uma diferença gritante entre a cultura das mídias e a cultura digital, por exemplo, está no fato muito evidente de que, nesta última, está ocorrendo a convergência das mídias, um fenômeno muito distinto da convivência das mídias típica da cultura das mídias.”

“Na medida em que as telecomunicações e os modos acelerados de transporte estão fazendo o planeta encolher cada vez mais, na medida mesma em que se esfumam os parâmetros de tempo e espaço tradicionais, assume-se, via de regra, que as tecnologias são a medida de nossa salvação ou a causa de nossa perdição.”
 

domingo, 16 de outubro de 2016

Busca - Shakira doa 15 milhões de dólares para o Haiti


No dia 11/10 (terça-feira), diversos veículos de comunicação do Brasil e do mundo publicaram uma notícia afirmando que a cantora Shakira havia feito uma doação no valor de 15 milhões de dólares ao Haiti, devastado após a passagem do furacão Matthew. Veja como a notícia foi publicada em 3 portais de notícias brasileiros:

O Globo: Afirma que a cantora fez a doação no dia 11, através da Fundação ALAS e complementa dizendo que Shakira já havia doado 400 mil dólares em 2010 para reconstruir uma escola na capital Porto Príncipe.

Estadão: Confirma também a doação de Shakira de 15 milhões de dólares ao Haiti através da Fundação ALAS no dia 11/10 e também traz a informação de que a cantora ajudou o país em 2010, mas que o valor doado foi de 1,5 milhão de dólares.

Veja: Também confirma a doação no valor de 15 milhões de dólares, feita no dia 11/10 por meio da Fundação ALAS e comenta sobre outra doação feita em 2010 no valor de 1,5 milhão de dólares.

No dia 12/10, a Fundação Pies Descalzos, criada por Shakira, informou à a agência de notícias EFE que a cantora não fez a doação de 15 milhões de dólares e que essa informação de que ela havia doado partiu da imprensa local. 

Conclusão: Essa pequena análise mostra que muitos portais de notícias ainda publicam notícias baseadas em publicações de outros portais, sem uma checagem profunda dos fatos para confirmar sua veracidade.

 

 

Fichamento: The Shallows - Nicholas Carr


Sobre o autor:




Nicholas Carr nasceu em 1959 nos Estados Unidos. É um autor que publica livros sobre tecnologia, negócios e cultura. O Livro The Shallows foi finalista do Prêmio Pulitzer em 2011. Além dele, escreveu livros como: Does IT Matter (2004) e The Glass Cage (2014).

Destaques do texto: 


“A tecnologia de uma mídia, por mais surpreendente que possa ser, desaparece por trás de tudo o que flui através dela – fatos, instrução, entretenimento,conversa.”

“Pesquisas que antigamente exigiam dias em estantes ou salas de periódicos de bibliotecas agora podem ser feitas em minutos. Algumas buscas no Google, alguns cliques rápidos em hiperlinks, e eu tenho em mãos o fato intrigante ou a citação sucinta que estava procurando.”

“Não importa se estou online ou não, minha mente agora espera assimilar a informação do mesmo jeito como a Internet a distribui: num fluxo de partículas que se deslocam rapidamente. Antes eu era um mergulhador no mar das palavras. Hoje eu apenas surfo na superfície, como alguém num jet ski.”

“Parece que chegamos, como previu McLuhan, a um ponto importante de nossa história intelectual e cultural, um momento de transição entre dois modos muito diferentes de pensar. O que estamos abrindo mão em troca das riquezas da rede – e só um ranzinza se recusaria a vê-las – é o que Karp chama de “nosso antigo processo de pensamento linear”.”

“O computador, comecei a perceber, era mais que apenas uma ferramenta que fazia o que a gente mandasse fazer. Era uma máquina que, de maneira sutil e inconfundível, exercia influência sobre a gente.”

“Passamos da percepção infantil do mundo, egocêntrica e puramente sensorial, para a análise juvenil da experiência, mais abstrata e objetiva.”

“Toda tecnologia é uma expressão da vontade humana. Com nossas ferramentas, buscamos ampliar nosso poder e controle sobre as circunstâncias – a natureza, o tempo, a distância, um sobre o outro.”

“Nossas tecnologias podem ser divididas, grosso modo, em quatro categorias, de acordo com como completam ou ampliam nossas capacidades nativas. Um conjunto, que abrange o arado, a agulha de costura e o caça, amplia nossa força física, destreza ou flexibilidade. Um segundo conjunto, que inclui o microscópio, o amplificador e o contador Geiger, amplia o alcance e a sensibilidade de nossos sentidos. Um terceiro grupo, que vai das tecnologias como o açude e a pílula anticoncepcional ao milho geneticamente modificado, permite-nos mudar a natureza para melhor servir nossas necessidades e desejos.
O mapa e o relógio pertencem à quarta categoria, melhor chamada, para usar um termo empregado em sentidos ligeiramente diferentes pelo antropólogo social Jack Goody e pelo sociólogo Daniel Bell, de “tecnologias intelectuais”. A categoria inclui todas as ferramentas que usamos para estender ou apoiar nossos poderes mentais – para encontrar e classificar informações, formular e articular ideias, compartilhar know-how e conhecimento, fazer medições e realizar cálculos, expandir a capacidade de nossa memória.”

“ A ideia de que somos de alguma forma controlados por nossas ferramentas é um anátema para a maioria das pessoas. “Tecnologia é tecnologia”, declarou o crítico de mídia James Carey, “é um meio de comunicação e de transporte sobre o espaço, e nada mais”.”

“É difícil acreditar que “escolhemos” usar mapas e relógios (como se tivéssemos escolha). É ainda mais difícil aceitar que “escolhemos” a gama de efeitos colaterais de tais tecnologias, muitos dos quais, como vimos, foram totalmente inesperados quando a tecnologia entrou em uso.”

“Em grande medida, a civilização assumiu sua forma atual como resultado das tecnologias que as pessoas passaram a usar.”

“Através dos milênios de história pré-alfabetizada, a linguagem evoluiu para ajudar o armazenamento de informações complexas em memória individual e tornar mais fácil a troca de informações com outras pessoas através da fala.”

Fichamento: Filter Bubble - Eli Pariser


Sobre o autor:



Eli Pariser nasceu em 17 de Dezembro de 1980 em Lincolnville nos Estados Unidos. É Co-fundador e Chefe Executivo da Upworthy, Presidente de MoveOn.org e Co-fundador da Avaaz.org. Também é ativista político e da internet.
Destaques do Texto:


“Nem tudo estava perdido: na verdade, havia uma solução logo ao alcance da mão. “A chave para o futuro da televisão”, escreveu, “é pararmos de pensar na televisão como uma televisão” e começarmos a pensar nela como um aparelho com inteligência. Os consumidores precisavam era de um controle remoto que controlasse a si mesmo, um auxiliar inteligente e automatizado que aprendesse a que cada pessoa assistia e então selecionasse os programas relevantes para ela.”

“Sob a superfície de todos os sites que visitamos, existem agentes inteligentes pessoais. Eles se tornam mais inteligentes e potentes a cada dia que passa, acumulando informações sobre quem somos e sobre os nossos interesses.”

“Embora a Amazon não tenha conseguido criar à perfeição a sensação de estarmos numa livraria de bairro, seu código de personalização funcionava bastante bem. Os executivos da Amazon não falam muito sobre o volume de rendimentos trazidos pelo sistema, mas com frequência apontam o mecanismo de personalização como uma razão fundamental para o êxito da empresa.”

“Em seus primórdios, o Google ficava hospedado em google.stanford. edu, e Brin e Page estavam convencidos de que a empresa não deveria ter fins lucrativos nem conter propaganda. “Acreditamos que os mecanismos de busca financiados por propaganda são inerentemente parciais, favorecendo os anunciantes e se distanciando das necessidades dos consumidores”, escreveram.”

“O Google não estava interessado em oferecer milhares de páginas de links – queria oferecer apenas um, o link que o usuário buscava. Mas a resposta perfeita para uma pessoa não é perfeita para outra.”

“...ao contrário do MySpace, que encorajava as pessoas a fazer contato mesmo que não se conhecessem, o Facebook aproveitava as relações sociais existentes na vida real. Comparado a seus predecessores, o Facebook era mais minimalista: a ênfase estava na informação, e não em gráficos extravagantes ou numa atmosfera cultural. “Somos um serviço público”, diria Zuckerberg mais tarde.”

“No Friendster e no MySpace, para descobrir o que nossos amigos estavam fazendo, tínhamos que visitar suas páginas. O algoritmo do Feed de Notícias recolheu todas essas atualizações contidas na gigantesca base de dados do Facebook e as colocou num só lugar, bem na nossa cara, no momento em que nos conectamos. De um dia para o outro, o Facebook deixou de ser uma rede de páginas conectadas e se tornou um jornal personalizado com notícias sobre (e criado por) nossos amigos.”

“Os dois gigantes se encontram agora num combate direto: o Facebook adquire importantes executivos do Google; o Google está trabalhando firme para construir programas de relacionamento social como o Facebook. No entanto, o motivo pelo qual esses dois colossos da mídia digital estão em guerra não é inteiramente claro: afinal, o Google tem como objetivo principal responder a perguntas; a missão do Facebook é ajudar as pessoas a se conectar com seus amigos.”

“O aprisionamento é o ponto no qual os usuários estão tão envolvidos com a tecnologia que, mesmo que um concorrente ofereça um serviço melhor, não vale a pena mudar. Se você for membro do Facebook, pense no que representaria mudar para outro site de relacionamento social, mesmo que ele tivesse características muito superiores. Provavelmente daria bastante trabalho – seria extremamente maçante recriar todo o seu perfil, enviar todas as fotos outra vez e digitar arduamente os nomes de seus amigos. Você já está bastante preso.”

“Digamos que você tenha examinado um par de tênis de corrida num site, mas tenha saído sem o comprar. Se a sapataria on-line que você visitou usar o redirecionamento, seus anúncios – que talvez apresentem uma imagem dos mesmos tênis em que você pareceu interessado – irão segui-lo por toda a internet, surgindo ao lado do placar do jogo da noite passada ou das postagens do seu blog preferido.”

“Tudo isso significa que nosso comportamento se transformou numa mercadoria, um pedaço pequenino de um mercado que serve como plataforma para a personalização de toda a internet.”

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Fichamento: O Culto do Amador - Andrew Keen


Sobre o autor:




Andrew Keen é um escritor britânico-americano nascido em Londres, crítico da Web 2.0. É formado em História pela London University e fez Pós-Graduação em Ciência Política na Universidade de Berkeley. Além de O Culto do Amador (2007), é autor de Vertigem Digital (2012).

Destaques do texto:





“Com a diferença de que em nosso mundo Web 2.0 as máquinas de escrever não são mais máquinas de escrever, e sim computadores pessoais conectados em rede, e os macacos não são exatamente macacos, mas usuários da Internet. E em vez de criarem obras-primas, esses milhões e milhões de macacos exuberantes – muitos sem mais talento nas artes criativas que nossos primos primatas – estão criando uma interminável floresta de mediocridade.”

“A lógica do mecanismo de busca, que os tecnólogos chamam de algoritmo, reflete a “sabedoria” das massas. Em outras palavras, quanto mais pessoas clicam num link resultante de uma busca, mais provável esse link aparecer em buscas subsequentes. O mecanismo de busca é uma união dos 90 mi de perguntas que fazemos coletivamente ao Google todo dia; em outras palavras, ele só nos diz o que já sabemos.”

“Diga adeus aos especialistas e guardiões da cultura de hoje – nossos repórteres, âncoras, editores, gravadoras e estúdios de Hollywood. No atual culto do amador, os macacos é que dirigem o espetáculo. Com suas infinitas máquinas de escrever, estão escrevendo o futuro. E talvez não gostemos do que ele nos reserva.”

“Eu nunca me dera conta de que a democracia tinha tantas possibilidades, tanto potencial revolucionário. Mídia, informação, conhecimento, conteúdo, público, autor — tudo iria ser democratizado pela Web 2.0. A Internet ia democratizar a grande mídia, as grandes empresas, o grande governo.”

“Eu chamo isso de a grande sedução. A revolução da Web 2.0 disseminou a  promessa de levar mais verdade a mais  pessoas — mais profundidade de informação, perspectiva global, opinião imparcial fornecida por observadores desapaixonados. Porém, tudo isso é uma cortina de fumaça.”

“Num mundo com cada vez menos editores ou revisores profissionais, como vamos saber o que acreditar e em quem acreditar? Como grande parte do conteúdo gerado pelo usuário é publicado anonimamente ou sob um pseudônimo, ninguém sabe quem é o verdadeiro autor da maior parte do conteúdo autogerado.”

“Nossas atitudes com relação a “autoria” também estão passando por uma mudança radical, como resultado da cultura democratizada da Internet de hoje. Em um mundo no qual plateia e autor são cada vez mais indistinguíveis, e onde a autenticidade é quase impossível de ser verificada, a ideia original de autoria e propriedade intelectual tem sido seriamente comprometida.”

“No admirável mundo novo de Anderson, haverá espaço infinito nas prateleiras para produtos infinitos, dando a todos escolhas infinitas. A Cauda Longa praticamente redefine a palavra “economia”, deslocando-a da ciência da escassez para a ciência da abundância, um mercado promissor e infinito no qual “ciclamos” e reciclamos nossa produção cultural para o conteúdo de nossos corações.”

“Mas mesmo que se aceitem os duvidosos argumentos econômicos de Anderson, a teoria tem um furo gritante. Anderson assume que o talento bruto é tão infinito quanto o espaço de prateleira na Amazon ou no eBay. Mas embora possa haver máquinas de escrever infinitas, há uma escassez de talento, competência, experiência e domínio em qualquer área. Encontrar e promover o verdadeiro talento em um mar de amadores pode ser o verdadeiro desafio da Web 2.0.”

“Na era da autopublicação, ninguém sabe se você é um cão, um macaco ou o coelhinho da Páscoa. Todo mundo está tão ocupado se autodifundindo (egocasting), imerso demais na luta darwiniana pela compartilhamento da mente, para dar ouvido ao outro.”